Resíduos eletroeletrônicos (REE) precisam ser separados com segurança, pois contêm componentes valiosos, mas também substâncias danosas à saúde humana e ao meio ambiente. Mercúrio, chumbo, cromo e arsênio, por exemplo, causam demência, queimaduras e contaminam o solo onde se plantam alimentos.
Além disso, segregar é agregar melhor preço de venda, pois enquanto o material inteiro é vendido como sucata em média a R$ 2 o quilo, componentes individuais (placas, plástico, memória, bateria) podem render entre R$ 7 e R$ 180 o kg.
Orientações como estas fizeram parte do primeiro curso de Gestão para dirigentes de cooperativas de REE do Projeto ReciclaON, que reuniu em 26 de março uma dezena desses empreendimentos no LASSU-USP (Laboratório de Sustentabilidade da Universidade de São Paulo). O ReciclaON é iniciativa do Instituto Gea com apoio financeiro do Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal e está sendo levado para todas as Capitais brasileiras.
Esta etapa de capacitação atinge sobretudo líderes das cooperativas. Além de aprenderem a valorizar mais seu trabalho e a potencializar o resultado do negócio relacionando-se adequadamente com fornecedores e compradores de REE, eles se conscientizam sobre transformar o descarte correto em crescimento sustentável.

Participantes recebem certificação ao final do curso
Negócios e natureza
“O ideal é ter compromisso ambiental e desempenho econômico. Muitas cooperativas fecham porque não se profissionalizam nem passam por treinamento. Não é só receber material e vender. A reciclagem deve conscientizar o colaborador a cuidar do seu espaço”, afirma Marly Monteiro Andrade, presidente da Coopernova de Cotia.
O gestor ambiental e técnico eletrônico Antônio Lamas Conde, diretor da Sustine e que trabalha com reuso de REE, explicou que a contaminação humana pode ser evitada com uso de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) básicos, entre os quais botas, luvas, óculos e máscara. O dano ao meio ambiente pode ser prevenido não expondo os REE ao sol ou chuva, nem sofrer qualquer processo de queima ou moagem.
Antônio Lamas também falou sobre legislação, dizendo que agora o CLI (Certificado de Licenciamento Integrado) engloba o Auto de Vistoria dos Bombeiros, alvará de Prefeitura, licenças da Cetesb e Vigilância Sanitária.
“Cooperativas têm que ser como empresas, com plano de negócios, cronograma de vendas, treinamento e metas”, diz Lucas Assumpção da Silva, catador autônomo. “Há muito preconceito contra nossa capacidade de empreender. Muitos veem os catadores como coitadinhos”, acrescenta José Geral dos Santos, da Cooperpoba.
O curso foi conduzido pelas diretoras do Gea Ana Maria Luz e Araci Musolino, além consultor ambiental Fabio Cardozo. Entre os problemas mais comuns, as cooperativas apontaram falta de ferramentas adequadas para desmontagem de REE, empresas compradoras de difícil acesso e baixo preço, material que chega “depenado”, ausência de campanhas de poderes públicos e junto à população para descarte correto dos equipamentos.
Entre os participantes estiveram as cooperativas Coopernova, Cooperpoba, Recifran, Recifavela, Coopamare, Coopervivabem, Cooperpac, Cooperglicério, e um catador autônomo. Antes do curso de Gestão, o ReciclaON realizou diagnóstico e curso de desmontagem de eletroeletrônicos nessas instituições. Agora o Gea se empenha em buscar adesão para carta aberta ao governo federal reivindicando que uma lei garanta às cooperativas o direito de trabalhar com REEs e que haja incentivo para que instituições públicas de todos os níveis governamentais e também autarquias destinem pelo menos parte de seus resíduos eletrônicos às cooperativas.
O ReciclaON programa atingir em dois anos as 26 Capitais do País e Distrito Federal. Já foi iniciado em São Paulo, Rio de Janeiro, Cuiabá e Campo Grande. O Instituto GEA é uma ONG que se dedica há 25 anos à educação ambiental